Juiz de Fora atingiu a marca de 50% da população alvo vacinada. Apesar da falta de vacinas em todo o Brasil e da lentidão do governo do Estado de MG em providenciar novas remessas, a cidade e a região têm protagonizado um certo avanço da sua cobertura vacinal. Isso colocou o estado em quinto lugar no ranking geral.
Infelizmente Minas Gerais tem aumentado o nível de contaminação e mortes, 23% no levantamento do consórcio de imprensa nas últimas semanas. Triste reflexo da faixa sócio-econômica mais baixa, atingida pela desigualdade, de acordo com os dados levantados pelo próprio governo/ ministério da saúde.
A tempestade é a mesma, mas estamos em barcos profundamente diferentes.
Enquanto isso, corretamente prefeituras têm dado prioridade a profissionais da área de frente ao combate ao novo Coronavírus, como médicos, enfermeiros, e pessoas com comorbidades, além das grávidas e lactantes.
Chego agora ao principal ponto de inflexão desse texto. É fato que profissionais de linha de frente estão mais sujeitos à contaminação, assim como pessoas com algum tipo de comorbidade. Agora, também é evidente a exclusão de profissionais como porteiros, vigilantes, faxineiros e pessoas da área de limpeza, assim como profissionais do transporte público.
Sem querer, excluímos os profissionais de menor qualificação profissional. Naturalizamos uma escolha seletiva daqueles que “merecem” mais os cuidados e a proteção. Lembramos do médico, mas esquecemos da faxineira que limpa o hospital. Lembramos dos professores e dos alunos, mas esquecemos do porteiro e da merendeira. Reflexo de uma sociedade que por quase 400 anos foi escravocrata. Por isso, esse texto pretende fazer um apelo à prefeitura de Juiz de Fora: inclua trabalhadores como porteiros, vigias, zeladores, pessoal da área de atendimento como caixas de supermercado e secretários no grupo de prioridade na vacinação da covid-19. Não precisamos pensar muito para chegar à conclusão de que esses profissionais são tão importantes e estão tão expostos quanto aqueles que estão como prioritários. É questão de respeito e humanidade.
Filipe Abranches, professor de História, pós-graduado em Gestão Pública e estudante de Administração. É agente comunitário no bairro Previdenciários.